A presidência do CRO-MG (Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais) não vê, inicialmente, negligência por parte dos dentistas que atenderam o menino de 10 anos que morreu após uma extração de dente, em Igarapé, na região metropolitana de Belo Horizonte, nesta segunda-feira (19).
Mesmo assim, o órgão abriu um processo interno para apurar eventuais erros cometidos pelos profissionais. Caso sejam identificadas irregularidades, os dentistas podem ser suspensos ou até terem a carteira profissional cassada.
“O Conselho vai apurar se houve negligência e imperícia no atendimento, o que é passível de responsabilização ética. No entanto, pelo que a gente entende até o momento, não houve negligência no atendimento e na prestação de primeiros socorros entre todos os profissionais envolvidas”, detalha Raphael Castro Mota, diretor do Conselho.
Um representante do CRO-MG esteve na clínica, nesta terça-feira (21), para recolher documentos relacionados ao tratamento de Antony Bernardo da Silva Souza.
“Agora aguardamos o relatório final do IML (Instituto Médico-Legal) para verificar se havia outro fator envolvido que a família desconhecia que pode não ter sido repassado para os profissionais, como a possibilidade de discrasia sanguínea, que é uma alteração que impossibilita a coagulação”, destaca Mota.
Socorro à vítima
De acordo com o boletim de ocorrência, a dentista de 29 anos que atendia Antony pediu ajuda de uma colega de trabalho ao identificar o sangramento após a extração do dente. Sem sucesso, as duas chamaram um terceiro profissional, especialista em cirurgia, que também não conseguiu conter a hemorragia.
Raphael Castro Mota chama atenção para o fato de que uma testemunha relatou à polícia que ambulância acionada para socorrer o menino não teria oxigênio.
“Esse terceiro colega que foi fazendo massagem respiratória e cardíaca e ventilação no paciente até o hospital. O garoto chegou em vida no hospital. Quatro médicos o atenderam e tentaram reanimá-lo durante 40 minutos”, afirma Mota.
A prefeitura de Igarapé, no entanto, nega a versão. “Todas as ambulâncias do município de Igarapé são equipadas, e contam com cilindros de oxigênio, observando o modelo de veículo de Remoção, do tipo A. Então, afirma que no momento do atendimento do paciente Antony Bernardo da Silva Souza a ambulância contava sim com suporte de oxigênio”, destacou nota do município.
Causa da morte
A causa da morte do menino deve ser indicada em um relatório da Polícia Civil, que deve ficar pronto em até 10 dias. O diagnóstico médico inicial indica choque hipovolêmico, caracterizado pela perda excessiva de líquido e sangue do corpo humano.
Consultada pela reportagem, a dentista Ludmilla Abi-Saber Toledo, que não tem relação com o caso, avalia que as cirurgias de extração são “relativamente simples”, mas exigem atenção e dependem do quadro de saúde do paciente.
“Vamos supor que eu atendo um paciente com hipertensão crônica. A gente afere a pressão. Se estiver normal e o paciente fizer o uso da medicação correta, ele não precisa de um risco cirúrgico para fazer a extração de dente ou realizar implante. Mas se é um paciente que já teve um infarto, como exemplo, e vai fazer uma cirurgia, é necessário que ele tenha um risco cirúrgico, independente do tipo de procedimento que vai ser feito.
Ludmilla também destaca que as crianças precisam ser atendidas por profissionais especializados.
“O clínico geral não tem o conhecimento de toda a parte pediátrica, que é diferente. A questão até da história desta criança, se ela amamentou, tomou mamadeira, tudo isso influencia no tratamento odontológico, porque influencia no crescimento da face como um todo”, conclui.
De acordo com diretor do CRO-MG, inicialmente, a família não teria repassado à dentista responsável pelo tratamento informações sobre histórico de saúde “que instigasse a profissional a pedir exames complementares”.
“Não é comum esse tipo de hemorragia, mas os cirurgiões-dentistas são preparados para atuar nesse tipo de intercorrência”, conclui Raphael Castro Mota.
Segundo a família, o menino era saudável. Elenilsa Jacinta, mãe do menino, conta que o filho começou a ter dor dentária na última semana e a dentista havia indicado uso de antibiótico para cessar uma inflamação. Só depois, a profissional iria realizar o tratamento, já que a gengiva do paciente estava com sangramento.
“Eu não tinha dinheiro para fazer um canal. Eu falei com ela que queria extrair, porque eu estou desempregada. Eu já procurei emprego em todos os lugares e não consigo. Minha única solução era tirar o dente, mas ela é uma profissional. Se não dava para retirar na quinta-feira, ela deveria ter falado”, lamentou a mulher durante o velório do filho, nesta terça-feira (21).